Diante
do texto “O absurdo” de Thomas Nagel, pudemos observar que, para ele, a vida é
um absurdo. Neste intuito, pretendemos observar se mesmo com a presença do Deus
cristão é possível que a vida seja absurda. A princípio desejamos explorar, de
modo sucinto, como Nagel acredita que a vida seja absurda, principalmente
quando ele fala sobre a presença de uma entidade divina. Logo após, desejamos
fazer uma análise com base no pensamento de Santo Agostinho de Hipona, dando destaque
a observação que este faz para a Interioridade do ser humano.
Nagel se depara com a questão da
vida como absurda e inicia seu trabalho opondo-se a algumas concepções errôneas
sobre o absurdo da vida. Logo após, ele começa a expor porque a vida é absurda.
Para ele, a vida é absurda, pelo
fato de “ignoramos as dúvidas que sabemos não poderem ser apaziguadas,
continuando a viver praticamente com a mesma seriedade, apenas dessas dúvidas”[1]. O
absurdo seria as questões que levantamos constantemente, porém que não as
solucionamos. Nagel acredita que todas as pessoas levam a vida a sério, mas
quando se deparam com essas questões, deixam-nas de lado, pois veem que não tem
solução. Ele intitula essas questões que nos fazemos de “Passo atrás”, pois
elas são a possibilidade de nos questionarmos sobre nossas ações – poderíamos
chamá-lo de reflexão, num sentido de pensar aquilo que já foi pensado.
Portanto, para Nagel, a vida é
absurda pelas inúmeras questões que nos deparamos, mas não conseguimos
solucioná-las. Deve-se ressaltar ainda que o absurdo, para ele, resulta de
nossa capacidade de compreender as nossas limitações humanas. Nagel vê o
absurdo como constitutivo da vida, ou seja, é natural e devemos viver
naturalmente. Propõe ainda abordar a vida com ironia.
Vista a questão da vida como
absurda, devemos agora estudar como Nagel vê a questão da presença de um ser
superior. Nagel propõe que mesmo que estejamos contemplando e participando da
glória desse ser superior (que a partir de agora iremos chamar de Deus), nossa
vida continuaria absurda.
Para ele, as pessoas que aderem a
uma crença que lhes propõe servirem a Deus, contemplarem a sua glória e
participar dela, se identificam suficientemente com esse Deus para se sentirem
realizadas a desempenhar seu papel. Porém essas pessoas também podem colocar em
questão todas essas propostas de vida e também projetos divinos, principalmente
por levarem a sério essas propostas. Portanto, para ele a vida continuaria
absurda, pois levariam a sério tais questões, mas mesmo assim continuariam a
colocá-las em questão e não encontrarem respostas.
Vendo essa proposta, podemos agora
analisá-la a luz de partes do pensamento de Santo Agostinho de Hipona.
A princípio observamos que Nagel não
vê Deus como o Deus cristão, visto que Agostinho acredita no Deus cristão como
um Deus pessoal, que vê e ouve atentamente cada pessoa, não esquecendo de suas
necessidades. Para Agostinho, o Deus cristão é um Deus silencioso que sempre
faz o bem, mesmo que o ser humano ainda não tenha visto sua ação como boa.
Nagel somente observa um Deus no qual podemos participar de sua glória, já para
a concepção agostiniana o Deus se fez humano por amor e o homem deve caminha
para este Deus: “Fizeste-nos para ti e inquieto está o nosso coração, enquanto
não repousa em ti”[2].
Podemos observar que Nagel deixa de
ver que o Deus cristão é um Deus que caminha junto do indivíduo e ainda mais se
encarnou e se fez humano. Porém, pode-se levantar uma questão: mas, ainda sim
pode-se dar o “passo atrás” e a vida
continuaria absurda.
Acreditamos que para Agostinho sempre
se deve dar esse passo atrás, porém ele irá se deparar com: primeiro, o
problema proposto por Nagel, da não solução por si só do problema; segundo, o
homem irá se deparar com o Deus cristão que está vindo em auxílio do ser humano e está mostrando para ele, qual o
caminho deve seguir.
O Deus cristão irá encaminhar o
humano rumo à verdade, que é se encontrar dentro dele. O homem irá encontrar
dentro de si, esse Deus e com ele a verdade que lhe dará segurança – sem haver
margem de dúvida –, de mesmo caindo na dúvida, não poderá deixar de observar
que precisa afirmar a verdade:
“Não sais de ti, mas
volta para dento de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem [...] quem
quer que duvide da existência da verdade, possui em si mesmo, algo verdadeiro,
de onde tira todo fundamento para sua dúvida. Ora todo verdadeiro, só é
verdadeiro pela verdade. Não possui, pois, o direito de duvidar da existência
da verdade aquele que de um modo ou outro chegou a dúvida”[3]
Diante disso, podemos observar que
com a presença de um Deus cristão, não é possível observar a vida como absurda,
isto que a verdade está no homem que tem a capacidade de duvidar. Mesmo sabendo
que essa verdade é inacessível humanamente falando, ela mesma se revela para o
homem, a fim de que ele esteja novamente junto dela. Portanto, podemos
constatar que a vida não é absurda com a presença de um Deus cristão, visto
que este absoluto se revela e coloca a
verdade acessível ao homem, para que mesmo ele se deparando com a duvida, ele
possa observar que existe ao menos uma verdade que lhe garante.
[1] NAGEL, Thomas. O absurdo. In: MURCHO. Desidério. Viver para que? Ensaio sobre o sentido
da vida. Lisboa: Dinalivro, 2009. p.
143.
[2]
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 3. ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1984. I, 1. coleção pensadores.
[3] AGOSTINHO.
Santo. A verdadeira religião. 2.ed. São Paulo:
Paulinas, 1987. XXXIX.72 e 73.
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